domingo, 1 de agosto de 2010

Minha primeira vez... no Clube de Esquina

Era sexta feira, estávamos em casa, sem nada pra fazer e então, Paulo me chamou para darmos umas voltas. Havia chegado há pouco em MT e não conhecia muita coisa, mas o que conhecera fora o suficiente para gostar. Cuiabá tem lugares fascinantes, porém não deixa de ter aquele aspecto de desdém em alguns locais, que toda cidade grande tem. Uma parte do “centro” um tanto feio diria, principalmente à noite, que é o momento certo para vermos as “desavenças”.
Saímos de VG, rodamos bastante e, como o calor era de matar (sem comentários, até cachorro na bunda sua...), estávamos de bermuda, camiseta e chinelo. Típico traje “Julianeiro” para toda e qualquer ocasião, exceto ir à igreja.
Num determinado ponto, passamos próximo a uma esquina que, uns cinquenta metros antes de alcançarmos, fiquei com os ouvidos atentos pelo estalo da caixa de bateria (nem sei o porquê de ter ficado atento a este som) sic.
Era inacreditável, o som nesse momento era nada menos que “T. N. T.” do AC/DC. Nem é preciso dizer que quase derrubei Paulo da moto para que parássemos. Amarramos os capacetes na moto e me lembro bem da expressão dele, em frente ao bar, dizendo que não nos encontrávamos em trajes para entrar num local onde só haviam pessoas “descoladas”. O local era perfeito e se tornaria meu reduto, principalmente as sextas.
O vocalista da banda já me chamou a atenção, com uma cabeleira ruiva que beirava a bunda, sempre de camiseta preta e carismático com todos, a ponto de cumprimentá-los sem distinção. O guitarrista foi um cara que passei a admirar, pelo simples fato de ele executar um solo muito idêntico do original, de coisas do Maiden, por exemplo, com aquele peso/melodia incríveis, sem sequer dar um passo ou expressar nada, a não ser o próprio som que exalava da guitarra que simplesmente falava por si.
Minha felicidade era nítida, porque me encontrava em um local que, do meu ponto de vista tocava a música de melhor qualidade da redondeza. Situavam-se lá, principalmente as sextas, muitas pessoas inteligentes. Lembro-me de uma ocasião em que me encontrava escorado ao balcão, de tão cheia que se encontrava a casa, e comecei a trocar ideia sobre literatura com uma moça. Num determinado instante da conversa, um gaucho (nos disse que era rio-grandense-do-sul tchê...) parou e comentou que a conversa era de qualidade. Fiquei ao mesmo tempo, contente e surpreso.
Pegamos uma “original” e ficamos em pé, vendo tudo e todos a nossa volta. Eu estava maravilhado com o som (e foi assim todas as vezes que ia lá), tinha muita coisa da velha guarda e, nesse dia me arrepiei quando começou a tocar “Doors”, era perfeito e o som da gaita era fenomenal. Naquele instante tive a certeza de ter encontrado o local perfeito para minhas noites, sobretudo as de sexta-feira. Além de escutar um som maneiro, via pessoas bacanas e inteligentes, e acima de tudo, era bem tratado, o que eu achava o máximo.
Durante as vezes que frequentei o bar, o que não foram poucas, vi somente um desentendimento de um cara com um garçom de nome “Joaquim”, por sinal o mais gente boa de lá. Tirando esse episódio, estávamos o tempo todo rodeados de pessoas cabeludas (homens) barbudos e tabuados, que se por algum acaso trombassem em você, o incidente era acompanhado de um “foi mal, cara”. Realmente não tinha como não gostar do lugar.
Logo na segunda cerveja, Paulo parou e disse que não queria mais. Depois, ainda tomei mais duas, enquanto ele saiu e ficou debruçado nos joelhos, sentado do outro lado da rua, ao lado da moto.
Fiquei lá, trocando ideias com qualquer um que se disponibilizasse para um bate papo. Foi a noite dos “Thundercats” (rsrsrsrsrs), como diria o Paulo.
 Saímos de lá e eu mal sabia onde estávamos. Logo após isso, meu amigo entrou de férias e fiquei solto com sua moto. Adivinhem o primeiro local que fui? Exatamente ao Clube de Esquina, mas rodei no mínimo meia hora para encontrá-lo. Fiquei tão feliz que meu semblante me condenava. Parecia uma criança que ganhara um doce.
Logo que cheguei, fui muito bem recebido por “Joaquin” que em determinado tempo chamou-me pelo meu prenome, Antonio, e me ensinou como não errar mais para encontrar o bar.
O curioso foi uma vez que um tempo sem ir lá e, quando cheguei, fui indagado por Joaquim o porquê de fazer tanto tempo que não frequentava a casa e, ao responder que era pelo fato de não encontrar amigos para me acompanharem, levei logo uma na cara: pode vir sozinho cara, aqui você também tem amigos, pode ter certeza. Fiquei tão feliz de ouvir isso, que nem insistia muito com os amigos para irem.
Muito tempo depois, encontrei uns amigos que, junto comigo iam com mais frequência, tem até uma história de uma vez que encontramos o “Desfigurado”, mas essa deixarei para uma próxima ocasião.
A primeira vez a gente nunca esquece, nos faz lembrar várias outras vezes e, se o Paulo não tivesse me levado ao “Clube de Esquina” naquele dia, talvez até o descobriria, mas poderia levar algum tempo. Valeu Paulo.